A corrupção mãe

Para Enrique Dussel, um dos maiores filósofos e pensador contemporâneo, o primeiro passo de um corrupto é afastar o povo das decisões, centralizar as ações e só voltar a procurar a população quando dele precisar dos votos. Ao contrário, o político honesto, probo e bem intencionado, governa justamente ao lado e com o povo participativo, numa governança solidária.
Em seu livro 20 teses sobre Política, Dussel sintetiza com perfeição o que é corrupção. Ele deixa claro que as denúncias que envolvem roubo, uso da influência, malversação de verbas públicas, ilegalidades diversas no exercício da função pública, abuso etc. nada mais são do que a capa visível de um processo que é muito mais profundo.
POLÍTICA COMO FETICHE
Para Dussel, os corruptos, no exercício do poder consideram-se o centro e a sua sede. As ações que se seguem a essa idéia nada mais são do que conseqüências da grande corrupção. Para o filósofo, aquele que exerce ou pretende exercer o poder precisa saber, de forma clara, o que é o poder. Poder não é um espaço de dominação, como querem fazer crer ou como imaginam espertos políticos, coronelista, colonialista, racista, exclusivista, centralizadores. Quando o poder é usado com essa conotação, de domínio sobre o outro, deixa de ser política e vira um fetiche.
CORRUPÇÃO MÃE
O filósofo diz que é preciso que as pessoas pensem sobre a corrupção-mãe, aquela que se esconde nos estúpidos atos ilícitos, na demagogia, na hipocrisia, no fingimento. É aquela representada, mormente, pelos que já ocuparam e pretendem retornar ao poder, e já respondem a inúmeras denúncias de corrupção, com processos na justiça, com alianças fraudulentas e acham-se no direito de continuar cometendo seus crimes sem nenhuma punição.
A GRANDE POLÍTICA
A política como grande política, segundo ainda Dussel, se expressa numa outra forma de exercer o poder: não como dominação, mas como poder que ouve e segue os governados. Ou seja, o político, para não ser corrupto, precisa saber que está representando uma gente que o elegeu e que, neste estado de representante do povo, precisa fazer o que o povo lhe ordena que seja feito. Não está nele o poder de fazer o que lhe dê na telha. Essa é a corrupção: quando o político pensa que, investido do poder, pode fazer o que quiser. Não pode! Há que ouvir e obedecer a população.

A omissão é um pecado que se faz não fazendo

Passados quase 4 séculos Padre Antônio Vieira ainda evidencia extraordinária atualidade. No ano de 1650, no Sermão da Primeira Dominga do Advento, Vieira exorta sobre os pecados da omissão e do voto, momento dramático que define entre bons e maus e as conseqüências na vida das pessoas, da cidade e ao arbítrio de Deus. Do passo mal dado procede os desmazelos, os desmandos, a corrupção, a improbidade que o eleitor carregará para sempre como pecado da responsabilidade omissa e fraudulenta. E já que estamos na antevéspera de uma eleição, convém também lembrar Tiago 4.17: Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado. O voto pelo descaminho, pelo mal é, portanto, um duplo pecado. Pecado contra os céus e pecado contra os homens. Aos céus porque, mesmo conhecendo o bem, escolhe o mal. Contra os homens, pois resulta em grandes desastres nas vidas das pessoas e das cidades e que dificilmente serão reparados. O Pecado da omissão é conseqüência da falta de comprometimento para com o bem. Como nos alerta do Papa João Paulo II: democracia não se sustenta sem a verdade. Verdade e liberdade, ou vão juntas ou perecem miseravelmente. E a verdade está sempre do lado do bem. E conhecer o lado do bem, e não segui-lo, é o pecado da omissão e esse é o pecado que com mais facilidade se comete, e com mais dificuldade se conhece; e o que facilmente se comete e dificultosamente se conhece, raramente se emenda. A omissão é um pecado que se faz não fazendo.

Para o triunfo do mal, basta que os bons façam nada. (Edmond Burker)

Se para Churchil o pior dos sistemas de governo é a democracia, mesmo não existindo outro melhor, ao longo da história a experiência tem sido catastrófica em alguns casos, desde a época em que Atenas, na Grécia, experimentou pela primeira vez o governo do povo para o povo. O próprio símbolo grego, Sócrates, foi vítima da inconsciência pública via democracia. Meio milênio depois, outra vítima foi Jesus Cristo. Isso para citar apenas dois vultos indeléveis para a humanidade. A democracia também foi a responsável pela chegada ao poder de déspotas como Adolfo Hitler e outros grandes criminosos históricos. Platão, o senhor dos senhores no pensamento humano, defendia um governo de sábios. As pessoas são diferentes, não são iguais. O governo do povo é uma idéia nobre, quando o povo é bastante nobre para julgar com justiça o mais sábio e o melhor de seus cidadãos, apregoava. E isso falta ao cidadão para desempenhar sua tarefa. Na Câmara dos Deputados, o exemplo mor de insensatez e descalabro, por reunir maior número, não há um só parlamentar que lá não esteja amparado pelo sufrágio universal. Todos foram eleitos pelo voto. Pelo povo, seja lá como for. É o resultado da democracia brasileira. Confúcio, predecessor dos grandes filósofos, timoneiro da sabedoria oriental, não admitia que todos os homens fossem iguais; a inteligência não é um dom outorgado a todos. Em vez de apenas candidatos a um governo exercido por uma sociedade de debates, temos candidato formado pelo dinheiro, por grupos financeiros, corporativista, associações indecorosas, pânicos. É preciso agir. Uma hora de justiça vale muito mais que 70 anos de oração. (Maomé).
Posted by FACÉCIAS DO EUBÚLIDES, sábado, 1 de novembro de 2008 13:29

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