O presidente negro

Difícil entender o silêncio da mídia compreensiva brasileira em torno assunto. Talvez seja pelo fato de Monteiro Lobato ter sido, e aainda o é, o mais nacionalista dos brasileiros, enquanto a imprensa é exatamente o contrário, a mais antinacionalista em todo o mundo. Ressuscitar esse que a deixaria na berlinda. O fato é que, há pouco mais de 80 anos, Lobato escreveu um livro, O Presidente Negro. Projeta uma eleição estadunidense envolvendo três candidatos: o negro, uma candidata e um candidato brancos. A cisão da sociedade branca em partido masculino e feminino possibilita a eleição do candidato negro. Perante o fato consumado, a raça branca engendra a esterilização da raça negra, camuflada num processo de alisamento de cabelos. As premonições do que hoje ocorre nos EEUU, não param por aí. Lobato prevê a invenção de um tipo de radiotransmissor de dados que possibilitaria o trabalho sem sair de casa, e o fim do jornal impresso porque as notícias serão enviadas diretamente para a casa dos indivíduos e aparecerão em caracteres luminosos numa tela: internet. Incrível semelhança com o que ocorreu e ainda ocorre nos Estados Unidos, mas que a imprensa brasileira teima em esconder para a grande massa.

LOBATO, APESAR DE SEU NACIONALISMO, era admirador dos Estados Unidos e ganhou o cargo de adido comercial da embaixada brasileira naquele país. Sua história, porém, causou mal-estar entre os estadunidenses, e ele voltou decepcionado para o Brasil. A divisão da raça branca, entre um candidato do Partido Masculino e uma candidata do Partido Feminino e um negro, define bem a vida dos americanos do Norte e o candidato negro pode muito bem ser comparado a Barack Obama. A candidata branca, a Hilary Clinton e o candidato branco a John McCain.

NÃO VOU CONTAR AQUI O DESFECHO DA OBRA, mas adianto que a raça branca se une para evitar que O candidato negro, (Obama?) assuma o poder. A obra impressiona ainda mais pela eloqüência dos personagens na defesa da eug enia. O sensível criador da boneca Emília faz uma argumentação extensa, na boca de vários personagens, das vantagens de leis que eliminem da sociedade surdos, mudos, deficientes, tarados, ladrões prostitutas e toda sorte de aleijados físicos e morais. Uma purificação racial levada às últimas conseqüências. A defesa da eugenia é tão efusiva e, em alguns momentos, despropositada que sugere fortemente ser um ideal nazi-fascista. Não foge muito da realidade camuflada na TV e tudo o mais. Monteiro Lobato - 1882 - 1948.

LOBATO FOI BANIDO DAS ESCOLAS e seu nome raramente é citado na imprensa brasileira, e muito menos na televisão, cuja obra é, por algumas vezes, limitada a alguma criação sem reverência ao criador.

NO CASO DO PRESIDENTE NEGRO, o silêncio em torno do assunto levanta suspeita, sobretudo quando se sabe que o papel da televisão brasileira vai além, muito além, do simples entretenimento e ou noticiário, já que informar é pedir demais, pois prefere explorar exaustivamente a desgraça humana, como no caso de Santo André e o assassinato da menina Eloá.

HÁ IMPUNIDADE TAMBÉM NOS CRIMES DA IMPRENSA, em particular pelas tevês. Um tipo de crime movido pela hipocrisia, pela estupidez e pela maldade, que só não é maior que o dinheiro que gera. No episódio mais recente, o de Santo André, a mídia foi e continua sendo o agente ativo dos acontecimentos. O desfecho só foi possível pela ação direta da cobertura ao vivo da TV sobre o seqüestrador, pela sua capacidade em entronizá-lo como uma rápida celebridade midiática (não mais efêmera do que qualquer outra), de transtorná-lo, de amplificar uma ação criminosa pueril e deixar o seqüestrador sem opções. Tudo, enfim, o que já é conhecido por quem acompanhou o caso.

O ASSUNTO É LONGO E COMPLEXO, mas seguida às especulações, escândalos, explorações, invenções e banalizações o desserviço da mídia vai muito além. Desvirtuando, inventando, manipulando, incentivando. É o caso do racismo. Fantasiada de estandarte do anti-racismo, a televisão, principalmente, é a primeira a incentivar a radicalização em torno do assunto, com sua superficial visão e seu noticiário bombástico, fantasioso e conduzido por robôs mal programados e sem preparo.
NO LUGAR DE APRESENTAR LOBATO e suas premonições de 80 anos atrás, a TV prefere explorar, literalmente, casos como esses e, repetidamente, mostrar, principalmente para os nossos jovens perdido em meio a tantos tiroteios casos como a gang de garotos brancos nos Estados Unidos. Esses, dizem as autoridades, arquitetavam um plano para matar Obama, o candidato negro. Incentivo maior para espalhar a moda, impossível.

CINISMO, IMPUNIDADE, EXPLORAÇÃO DE INCAPAZES, irresponsabilidade, indução ao crime, racismo, atentado ao pudor, manipulação de dados, falsidade ideológica etc., são alguns das centenas de crimes que nossa TV pratica hora a hora e nada acontece.

Se disserem mal de ti com fundamento, corrige-te. Do contrário, ri e não faças caso. Epictetus

Ao vencedor, as batatas
Dizem que a gente aprende mais nas derrotas que nas vitórias. Creio, não resta dúvida, na grande maioria das vezes essa filosofia popular faz sentido. Também é possível aprender com vitórias, embora seja bem mais complicado, exigindo muito do vitorioso. Mas o que chama a atenção nas vitórias são as camuflagens. Nem sempre o que leva é, de fato, um vencedor. Soa assim como não ganhou, deixou de perder. As eleições, de modo geral, são assim. Raramente o eleito reflete a vontade da maioria. Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, foi eleito e reeleito obtendo, em cada eleição, pouco mais de 30% do eleitorado. Com Lula não foi diferente e, em Montes Claros, agora, 40% dos eleitores venceram a vontade de 60%. Não É tirar os méritos do vencedor. Trata-se daquilo que chamamos de democracia. É assim há séculos. 400 anos Antes de Cristo, Platão já tratava do assunto. O governo do povo é uma idéia nobre quando o povo é bastante nobre para julgar com justiça o mais sábio e o melhor de seus cidadãos. Portanto, como filosofou Quincas Borba, ao vencedor, as batatas.

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CONFÚCIO NÃO ADMITIA que todos os homens fossem iguais; a inteligência não é um dom outorgado a todos. O que diferencia o homem dos outros animais é muito pouco – e a maior parte dos homens deita fora esse pouco. O maior bem será afastar dos cargos os ignorantes e escolher os mais sábios. O homem civilizado distingue-se do selvagem, principalmente pela prudência, pela previsão.

RESTAM A EXPECTATIVA e, se não um conselho, uma sugestão: que antes de assumir, se já não leram, leiam pelo menos quatro livros de dois autores que tratam de temas atuais. A Política e Ética a Nicômaco, de Aristóteles (384-322 a.C.) e, Dos Deveres, e Da República, de Cícero (106-43 a.C.). Platão, também, vem a calhar, sobretudo para aquela maioria quer perdeu seu voto ou que o desperdiçou anulando, em branco ou omitindo.

NUMA CAMPANHA EM QUE A CORRUPÇÃO foi um dos temas centrais, e no momento em que assistimos quase que diariamente à prisão de quadrilhas com a participação de agentes públicos e políticos, a leitura das obras recomendadas é quase obrigatória como lição de conduta para o homem público. São obras escritas há mais de 20 séculos e não é difícil descobrir o que há nelas de tão importante. Alguns trechos explicam: - “(...) nada prova maior submissão e fraqueza da alma que o amor ao dinheiro (...)”;_QUEM QUISER

GOVERNAR DEVE analisar estas duas regras de Platão: uma, ter em vista apenas o bem público, sem se preocupar com a sua situação pessoal; outra, estender suas preocupações do mesmo a todo o Estado, não negligenciando uma parte para atender à outra; e, (...) a palavra dada deve sempre refletir o que se pensa. (...) De todas as injustiças, a mais abominável é a desses homens que, quando enganam, procuram parecer homens de bem.

O CRÍTICO ALEMÃO WALTER BENJAMIN escreveu que a derrota era uma situação mais dialética do que a vitória. É uma espécie de alerta para as conseqüências da vitória e da derrota. O vitorioso, segundo ele, precisa assegurar seu controle sobre a situação, se protegendo e garantindo a posição conquistada. Com isso, tende a se instalar dentro da sua fortaleza e a repetir o que já deu certo. Tende a aprisionar-se à fórmula do sucesso. Não se renova. O derrotado, ao contrário, é forçado a rever o que não deu certo, precisa se renovar para não repetir seus erros. Benjamin diz, poeticamente: o derrotado precisa se banhar no sangue do dragão.O

VITORIOSO É ADMIRADO NO MOMENTO DA VITÓRIA, porém em seguida começa a ser visto com suspeita: bestamente envaidecido pelo sucesso. Pascal, pensador francês do século 17, já tinha observado que o público gosta de ver a luta, um vencendo o outro, mas não gosta de ver o vencedor tripudiando sobre o vencido.

MAQUIAVEL RECOMENDOU DAR UMA BANANA para ética e moral, e tratar a política tal qual é: a política malgré elle-même, apesar de si mesma. Fez da prática uma teoria, deixando de lado o quadro das idéias. Libertando a política da teologia e da moral, e observando a leitura da história real; substituindo o deve ser pelo o que é, assim como é. Fez escola.PARA O PENSADOR POLÍTICO ALEMÃO, Eduard Bernstein, um dos revisores de Karl Marx, o movimento é tudo, o objetivo é nada. A conquista do poder é tudo, o quê fazer, é nada; a conservação do poder é tudo, o programa é nada. E se movimento é tudo, ele é, também, o objetivo final; o mais, o resto, é nada. Tática e estratégia se fundem. O bom projeto perdeu para o bom nada, para o vazio.

PODER PELO PODER - Ainda nas observações de Bernstein, o fazer político que vale na prática, (as urnas comprovam), é o poder pelo poder, como meio e como fim. Os meios para a conquista do poder e sua conservação transformam-se em fins. E tudo o mais estará legitimado. O Agora, o que passa a valer é a manutenção do poder, projeto tão precioso que pode justificar a ausência de objetivo, ou a transformação do meio em fim. Tudo o que se fizer estará justificado, porquanto o novo Príncipe está armado dessas imunidades éticas. Os meios, quaisquer, estão justificados pelos fins, e não há fim mais legítimo do que a conquista e conservação do poder.

GANHAR PARA MUDAR TRANSFORMA-SE EM MUDAR PARA GOVERNAR. É a política reduzida às táticas, a política como técnica; é, nas palavras de Gramsci, a pequena política, a administração passiva do cotidiano em prejuízo das propostas estratégicas, a política do dia-a-dia, dos corredores, das intrigas, das negociações, do tráfico de influência, dos truques e das tramóias.
SÃO DUAS ÉTICAS, observou Max Weber. A ética do governante e a ética comum, dos indivíduos, e mais do que isso afirmou ainda que o governante não pode estar subordinado à ética do senso-comum, porque há uma ética do governante e uma ética, distinta, dos indivíduos, uma ética própria das religiões, uma ética própria do poder econômico-financeiro, uma ética própria dos Partidos etc. Para chegar ao ou manter o poder o Príncipe deve agir contra sua palavra, seus escritos, seus compromissos, que logo exortará os súditos a esquecer, como FHC pediu para esquecerem o que escreveu quando era sociólogo e Lula, o que disse e prometeu como metalúrgico e militante. A honestidade e a sinceridade não têm vez nesse jogo.
VITORIOSO, O ELEITO ESQUECERÁ SUAS PROMESSAS, valer-se-á da astúcia e da simulação para governar. Porque o Príncipe não pode observar todos os preceitos de que são súditos os homens considerados apenas bons, o comum dos homens. Das suas ações, o importante é o êxito. Por isso os meios que empregar serão adequados, se levarem ao bom êxito. E o poder das idéias, de Milton Campos, que se dane, cada povo tem o governo que merece e que elege.
Vi no céu outro sinal grande e admirável: sete anjos tendo os sete últimos flagelos, pois com esses se consumou a cólera de Deus. - Apocalipse 15.

Agente só sabe aquilo que não entende
Em Grande Sertão: Veredas, obra mestra da brasilidade, de João Guimarães Rosa, Riobaldo filosofa: Medo de errar sempre tive. Medo de errar é que é a minha paciência... E tem candidato por ai, pelo que se vê, lê e ouve, que não leu Guimarães Rosa e nem imagina Riobaldo. Não tem esperança e optou pelo medo, bem ao contrário do que apregoa na tentativa de ludibriar o cidadão. O candidato não tem vontade e muito menos projeto político. Nem um plano para o desenvolvimento do município. Como ele mesmo diz que mudou, que é um novo homem. Que a vida o fez mudar. O poder o fará mudar muito mais. E, como também nos diz Guimarães, no mesmo livro, A gente só sabe bem aquilo que não entende.REIVALDO CANELAPois é. E foi-se o Dr. Reivaldo. O Seu Reivaldo. O marido, o pai, o avô e tio Reivaldo. O amigo, escritor e poeta, Reivaldo Canela. Pegou a todos de surpresa. Para todos nós, foi muito cedo. Achávamos que ficaria mais tempo em nosso convívio nesta etapa de nossa existência. Acreditávamos que ainda tinha muito que nos ensinar. Mas ele não. Ele sentiu que sua missão estava cumprida e que estava na hora de novas missões, vendo a vida no ponto de vista da eternidade. Enxergava longe esse Reivaldo. E quem somos nós para discutir com ele!


REIVALDO CANELA I
Pois é. Nem faz tanto tempo assim, ele nasceu e chorava. E todos, à sua volta, sorriam. Agora, esperto como ele só, prega essa peça. Só ele sorri, todos choramos. Mas ele sabe o que faz, esse Reivaldo. Sempre fez certo. O certo dos espíritos elevados, nem sempre ao alcance de nossa visão às vezes com aquela miopia típica de espíritos aprendizes. E ele nos ensinou a enxergar muita coisa. Agora foi praticar seus dons em outras esferas, talvez mais carentes de visão do que nós.

REIVALDO CANELA II
Morreu imortal. E como diria o agora seu colega celestial, Victor Hugo, foi se abrumado pelos anos, abrumado de obras, abrumado da mais ilustre e difícil das responsabilidades, a responsabilidade da consciência humana advertida e retificada. Foi-se reverenciado pelo passado, abençoado pelo porvir. Sua maneira simples, seu jeito singelo, não foram capazes de impedir a sua soberba glória.

REIVALDO CANELA II
Reivaldo era mais do que um homem, um irmão, um filho, um marido, um pai, um avô, um grande poeta, um grande escritor. Um grande amigo. Uma grande fonte de inspiração. Uma sensibilidade capaz de amortecer o mais sólido dos corações. Era, e continua sendo, um ser humano no mais sublime dos significados. Exerceu sua função e cumpriu sua missão.

REIVALDO CANELA III
Sei não... Seu Reivaldo era muito reservado. Às vezes falava às coisas que nosso espírito imaturo demorava a captar. Sei que é cristão. Fiel e temente a Deus. E, mais do que isso, um cristão na prática. Não apenas nas palavras. Se acreditava na reencarnação? Na metempsicose? Creio que sim. E não sei de o porquê, tenho a impressão que se assim for da vontade Divina, já está paquerando algum lago, algum rio... quem sabe os mares e pensando seriamente em ser um peixinho. Já preparando algum poema, e proseando ali com São Francisco, com padre Antônio Vieira que sempre falaram para os peixes e seus profundos sermões, já que os homens tapavam os ouvidos. E os peixinhos, provaram os nossos santos. Sabem ouvir. E entender, o que é melhor.

REIVALDO CANELA IV
Aproveite, seu Reivaldo, diga aos seus amigos que este aqui não se esqueceu do compromisso. Aquele sobre o seu último livro. E vai cumprir, ok? Felicidades para você. Um abraço e um até breve. Ah!, aproveite, e na primeira oportunidade mande lembranças para a minha mãe, Dona Lourdes, pra Dona Helena, pro Reinilson, pro Cândido Canela, pra Dona Laurinda, pra Dona Julieta, e toda esta turma boa que já cumpriu sua missão por aqui e foi cuidar de outras maiores. Obrigado por tudo.

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Posted by FACÉCIAS DO EUBÚLIDES, sábado, 1 de novembro de 2008 13:34

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